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Na minissérie “Nada Ortodoxa” conhecemos Esther Shapiro, uma garota judia nascida e criada em uma comunidade judia fechada, mas que decidiu deixar essa vida para trás para conhecer o resto do mundo. Quando ela foge de sua comunidade que era situada em Nova York, ela vai para a Alemanha, onde vive sua mãe, que no passado também havia tido uma história como Esther, um casamento arranjado e infeliz.
No inicio da trama, você começa a ver Esther fugindo, mas meio que sem entender muito o que aconteceu. A partir daí vão alternando cenas de passado e presente, onde o telespectador entende o que Esther passou para levá-la a querer ir embora.
Você se depara com uma religião tão fechada em si, que até então eu não imaginava que havia uma ramificação do judaísmo tão ortodoxo assim. Do tipo que as mulheres raspam seus cabelos após o casamento e precisam usar perucas ou turbantes, que creio que seja a substituição dos véus. Antes do casamento a mulher passa por um ritual de "limpeza" ela tem que estar totalmente limpa e pura para o marido. Esther era a típica jovem ingênua que não sabia o que esperar de um casamento, não tinha nem ideia de como funcionava uma relação sexual, tanto que uma das partes que mais chama atenção é quando uma mulher, uma espécie de conselheira precisa explicar tudo para ela antes do casamento.
Era como se a mulher, naquela comunidade tivesse o papel de ser preparada apenas para ser esposa e mãe. E me chocou muito ver tantos filhos que aquelas mulheres tinham, e como pareciam estar felizes com o fato de serem praticamente instrumento para reproduzir.
Na relação de Esther com o Marido, vemos em vários momentos que os dois tinham algumas afinidades, ele era tímido demais, muito resignado á família e em certo ponto isso começou a incomodar Esther, pois a mãe e irmã dele sabiam de tudo que se passava no casamento dos dois, inclusive a dificuldade que tinham de ter relações sexuais. O momento decisivo pra Esther, foi quando o marido ameaça separar dela pelo fato de ela não conceber algum filho em mais de um ano de casados. Ele sempre usava o exemplo dos outros irmãos para criticar isso, culpando ela.
No desfecho da série, quando o Marido viaja para encontrar Esther com o objetivo de traze-la de volta para a comunidade, em certo ponto me emocionei com a forma com que ele estava disposto a mudar por ela, quando percebeu e conheceu coisas sobre ela que não havia visto durante o tempo que estavam juntos. Por um momento eu quis muito que eles se acertassem. Mas por outro lado, não podia ignorar que ali, na Alemanha, Esther era outra pessoa, livre, buscando seus sonhos, sendo alguém que ela nunca imaginara que poderia ser.
Uma importante observação que não poderia deixar de fazer é o fato de que justo na Alemanha, onde aconteceu o maior holocausto de Judeus durante a Segunda Guerra, é justamente ali que Esther vai procurar sua felicidade e viver sua liberdade.
Entendemos, no fim de tudo, também que essa comunidade judaica ortodoxas a qual Esther pertencia, era assim tão fechada para não dar a oportunidade ao mundo de destruí-los novamente. Seus fundadores eram pessoas sobreviventes do holocausto. Eles tinham o objetivo de colocar no mundo mais Judeus, tantos quantos deles haviam morrido por conta do holocausto. E que essa comunidade realmente existe, em plena Nova York.
Foi uma série emocionante e marcante pra mim em muitos pontos, me coloquei no lugar de Esther em muitos momentos, e mesmo sendo de uma religião totalmente diferente, podia me imaginar como ela. No sentido de que muitas vezes deixamos de viver o que sonhamos, por estarmos presos aquilo que veio antes de nós. Ensinamentos dos nossos pais e avós que vivem enraizados em nós, e quando a gente não tem esse contado com o mundo, com o novo, a atualidade, podemos nunca descobrir o que nos faria feliz de verdade. Terminei a série admirando muito Esther pela coragem e feliz pelo que ela conseguiu vencer. Que era uma barreira muito maior do que as que já tive (e tenho) que ultrapassar na vida sendo cristã.
É uma série que merece ser vista, refletida e aclamada, sim. Principalmente sendo baseada em um livro autobiográfico, uma história real, Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots de Deborah Feldman, que deixou o movimento Satmar, uma comunidade hassídica na cidade de Nova York.
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